Discipulado, isso é importante?
Confundimos fazer discípulos com fazer prosélitos. O dicionário define prosélito como pessoa que foi atraída e se converteu. O proselitismo, que preferimos chamar de evangelismo, é o passo inicial para levar as pessoas a Cristo, mas deve ser praticado de acordo com os princípios da Palavra de Deus e seguido do discipulado. Discipulado e evangelismo não podem ser confundidos um com o outro. O discipulado é tão importante que foi a última recomendação de Jesus, antes de subir ao céu.
Texto bíblico
E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos (Mateus 28:18-20).
Introdução
Muitos de nós temos confundido fazer discípulos com fazer prosélitos. O dicionário define prosélito como pessoa que foi atraída e que se converteu a uma religião, uma seita, uma doutrina ou um partido, um sistema, uma ideia etc. Ao longo dos anos, seguidores de todas as religiões têm sido incentivados e, até mesmo, treinados a conseguir adeptos ou partidários para a sua religião; fazer proselitismo. Não que isso seja um mal em si, exceto quando essa mentalidade os leva a agir como se estivessem em um campo de batalha, onde, quem não está do mesmo lado, é encarado como um inimigo a ser subjugado. O proselitismo (que preferimos chamar de evangelismo) é o passo inicial necessário levar as pessoas a Cristo, mas precisa ser bem entendido e praticado de acordo com os princípios da Palavra de Deus e, necessariamente, seguido do discipulado. Portanto, discipulado é o passo que se segue ao evangelismo e não devem ser confundidos um com o outro. Praticar o discipulado é tão importante que foi a última recomendação de Jesus, antes de ascender ao céu.
Definindo o que é discipulado
Segundo o dicionário, discípulo significa aquele que recebe disciplina ou instrução de outro; que segue as ideias ou imita os exemplos de outro. Isso é bem diferente de tomar partido e se tornar um sectário. Problemas de relacionamento ocorridos entre etnias em diversos países e entre diferentes denominações da igreja, aqui no Brasil e em outros países, são produto dessa visão distorcida, inerente ao ser humano, que geralmente se percebe como parte de uma tribo, time ou grupo, que o leva a ver os outros como antagonista.
Ser discípulo de Jesus significa trilhar o caminho que começa na cruz e segue na direção do nosso semelhante, nos levando cada vez mais para perto deste, mesmo que sejamos diferentes na maneira de pensar ou tenhamos uma cosmovisão divergente.
Porque o discipulado é tão importante?
Deus não está interessado em soldados, partidários ou militantes que O defendam dos ataques de pessoas que, conscientes ou não, estejam a serviço de satanás. Em grande parte, a oposição do islamismo ao cristianismo se deve a essa mentalidade belicosa, que levou a igreja institucionalizada a agir, na época das Cruzadas, de modo contrário aos princípios da Palavra de Deus.
Precisamos primeiro ser discípulos, antes de começarmos a fazer discípulos. Se insistirmos em fazer prosélitos, pode ser que tenhamos igrejas lotadas mas não pessoas capacitadas para mudar o mundo; nem, tampouco, teremos confiança de que elas herdarão o Reino dos Céus.
Portanto, fazer discípulos é a tarefa mais relevante da igreja, em todos os tempos. Deus quer imitadores que o representem na terra como embaixadores. Há uma grande diferença entre invadir uma nação com um exército e enviar uma comitiva de embaixadores. O apóstolo Paulo entendia essa diferença:
De sorte que somos embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse. Rogamo-vos, pois, da parte de Cristo, que vos reconcilieis com Deus (2 Coríntios 5:20).
Em outra passagem ele diz: “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo” (1 Coríntios 11:1).
É-me dado todo o poder no céu e na terra
Ao nascer na terra, Jesus ingressou na história humana despido de Seus atributos divinos (Fp. 2:7), mas quando deu o brado na cruz – “está consumado” – Ele estava declarando haver terminado Seu trabalho na terra e reassumindo a posição que Lhe pertencia por direito no seio da divindade. Ao despedir-se de Seus discípulos, voltando para o Pai, Ele deixou claro que contava com eles na terra para uma tarefa gigantesca: levar ao conhecimento de todos a salvação conquistada na cruz, a boa notícia, o evangelho.
Ide, fazei discípulos
Evangelizar é a tarefa mais básica desse conjunto de responsabilidades dada pelo Senhor. É crucial que os emissários de Jesus entendam que o objetivo maior é fazer discípulos. Os seguidores de Jesus e de outros mestres daquela época conheciam o significado do termo “discípulo”. Eles estavam familiarizados com essa forma de ensino, que não se limitava à mera transmissão de conhecimento, mas a uma forma de moldar o caráter e o pensamento por meio do ensino prático e do exemplo.
No mundo em que vivemos, somos vulneráveis às pressões da sociedade, da cultura, da mídia etc, deixando que elas nos moldem. Ao permitir que nossa maneira de pensar e de enxergar a vida seja ditada pelo mundo, esquecemos que fomos chamados para ser agentes de transformação e acabamos por nos tornar reféns de nosso egoísmo, que está na essência dos modelos impostos pela sociedade. Não nos esforçamos para mudar a realidade que nos cerca. Apenas nos acomodamos e esperamos que o mundo à nossa volta nos faça feliz, pois acreditamos que esse é um direito inalienável de cada ser humano nascido neste mundo.
Se atentarmos para o tamanho da nossa responsabilidade, considerando qua a ordem foi dada por Jesus, deixaremos para trás as coisas típicas de menino – choramingar, reclamar, exigir – dando oportunidade para que o Espírito Santo molde a nossa mente e nos capacite a ser sal e luz neste mundo. Não fomos chamados para assimilar o mundo, mas para manifestar o Reino de Deus no mundo.
Batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo
A primeira coisa a fazer, é uma chamada ao compromisso. A começar em mim, diz a canção. O batismo cumpre a função de revelar para o mundo exterior a decisão de se comprometer com Jesus e se tornar seu discípulo. Ser tolerante, inclusivo, benevolente não significa ser conivente com o pecado, nem omisso quanto à responsabilidade de comunicar necessidade humana de um Salvador. As pessoas precisam saber que carecem de salvação. Ficar em cima do muro significa rejeitar a oferta graciosa de Jesus. Quem permanece relutante em se batizar pode está nos dizendo, talvez inconscientemente, que ainda não compreendeu completamente o plano da salvação e precisa de nossa ajuda para tomar uma decisão consciente. Ao tempo em que devemos respeitar a atitude de cada um, temos o dever de comunicar a necessidade e urgência da decisão e, embora o batismo não seja imprescindível para a salvação, devemos tentar nos certificar de que a pessoa fez a sua opção por Jesus.
Ensinando-os a guardar tudo o que eu vos tenho mandado
Sinceramente, creio que é nesse ponto que mais temos falhado. Há igrejas que se transformaram em centros de entretenimento, algumas com investimentos caríssimos. Há outras que não ensinam nada ou ensinam doutrinas de homens, costumes, filosofia, teologias estranhas à Bíblia e até doutrinas de demônios. Isso não chega a nos escandalizar, pois a Bíblia previu que isso aconteceria:
Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios; pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência (1 Timóteo 4:1,2).
Não devemos nos contentar apenas em usufruir as bençãos do Senhor. Somos desafiados a ensinar aos outros a vontade de Deus. Precisamos voltar mais vezes para o texto das Escrituras Sagradas, especialmente para o Sermão do Monte, registrado nos capítulos cinco, seis e sete de Mateus, onde Jesus nos revela de maneira profunda e, paradoxalmente, muito simples, os princípios que norteiam a vida daqueles que são chamados por Ele. Depois de ler esses três capítulos de Mateus, talvez bata um desânimo e você declare de coração sincero: “Perdão, Senhor, eu não consigo!” Pois eu lhe digo que Ele está esperando não apenas que comecemos a viver desse jeito mas, de fato, ordenando que também ensinemos aos outros esse caminho. Indo além das palavras; pelo nosso exemplo. Isso é fazer discípulos.
E, se alguém não reparou, vejamos novamente como termina o capítulo 5 de Mateus. Ele se encerra com Jesus dizendo algo espantoso: “Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus” (Mateus 5:48). Ele exige de nós nada menos que a perfeição. Não somente a perfeição humana, que já seria absurdamente difícil de ser alcançada, mas a perfeição de Deus. Porém, antes que você desespere de vez, deixe-me esclarecer uma coisa: o segredo está na última fala de Jesus.
Eu estou convosco todos os dias
Moisés foi muito sábio! Quando recebeu todas as instruções de Deus e viu o quanto Ele era exigente, suplicou: “Se tu mesmo não fores conosco, não nos faças subir daqui” (Êxodo 33:15).
Quando Deus se revelou para os nossos antepassados, em meio a tantos deuses pagãos, adorados pelos povos da antiguidade, não se apresentou como o poderoso, ou o protetor, ou o guerreiro, como as nações fantasiavam ser os seus deuses. Ele se identificou pelo atributo mais revelador de Sua natureza: a santidade.
Fala a toda a congregação dos filhos de Israel, e dize-lhes: Santos sereis, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo (Levítico 19:2).
Isso era tanto uma exigência como uma garantia. Devemos ser e podemos ser santos, porque Ele é santo e está conosco.
Outro atributo igualmente revelador da essência de Deus é o amor. Toda a Escritura revela esse amor. Por mais que os detratores da Bíblia insistam em apontar para a existência de um ser belicoso e mau — confundem a justiça divina com maldade —, o que encontramos no Antigo Testamento é a revelação de uma Pessoa amorosa ao extremo. O apóstolo João não se contenta em dizer que Deus ama (Jo. 3:16), ele revela que Ele “é” amor (I Jo. 4:8). A característica que Jesus escolheu para distinguir seus discípulos das demais pessoas foi o amor. “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (João 13:35).
A perfeição que Deus exige de nós baseia-se nesses dois atributos da divindade: santidade e amor. E, apesar das nossas falhas, Ele nos conclama a sermos perfeitos. A santidade diz respeito à nossa separação de tudo que está relacionado a esse mundo caído. Não quanto às pessoas ou à geografia, mas aos valores que norteiam as ações e as escolhas de quem ainda não conhece a Deus. O amor tem a ver com a crucificação diária e contínua do nosso ego, em favor do outro. Deus espera que nós — assim como Ele tem dedicado todo o esforço necessário na criação, manutenção e resgate do universo, em favor de mim e de você — tenhamos, igualmente, o desprendimento de investir nossos dons espirituais, intelectuais e materiais no resgate das almas e no aprimoramento delas, de acordo com os princípios do Seu Reino.
É uma tarefa fácil? Não, nunca foi! O apóstolo Paulo, olhando para a sua própria trajetória, declara: “Não que já a tenha alcançado, ou que seja perfeito; mas prossigo para alcançar aquilo para o que fui também preso por Cristo Jesus” (Filipenses 3:12). Ser perfeito tem a ver com essa disposição de jamais nos deixar abater pelas falhas involuntárias, mas permanecermos dispostos a prosseguir para o alvo, certos de que não estamos sozinhos. Temos o Senhor ao nosso lado para nos socorrer na hora em que necessitarmos. E assim, com o nosso exemplo, mais do que com o nosso discurso, continuarmos fazendo discípulos ao longo da caminhada.